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Rêve général

 

2009 

Um 1º de maio passado na França, justo em 2009, em meio à crise financeira mundial e às medidas austeras do governo, quando o país parou para uma greve geral que reuniu mais de um milhão manifestantes nas ruas do país. Tirei dezenas de fotos de pessoas carregando um adesivo com as palavras de ordem que bem podiam ser do século passado. Em certa medida, elas traziam o sabor de um slogan de outro maio, o de 68, “Sous le pavés, la plage”, “debaixo dos paralelepípedos, a praia”. Quando, em 68, os manifestantes começaram a fazer barricadas nas ruas e pegar os paralelepípedos do calçamento para usar no confronto com a polícia, viram que debaixo das pedras havia areia. No meio do coração de Paris, a muitos quilômetros do mar, sob os pés, a areia da praia.

Em maio de 2009, as palavras de ordem que se espalharam pelo país naquele maio não foi “grève générale” (greve geral), mas, sim, “rêve générale”: locução que traz um eco da “grève” não só em “rêve” (sonho) como também na concordância do adjetivo “générale”, que em francês deveria vir no masculino para concordar com “sonho”. Como “geral” em português não produz o efeito do original (por ser adjetivo de dois gêneros), uma possível tradução seria: “sonho coletiva”.

Debaixo da greve, o sonho. Essa possibilidade de fazer coisas com a linguagem, de construir um sonho a partir das pedras, da greve, de um desvio na concordância do gênero.

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